segunda-feira, 3 de agosto de 2009

350 dias para o Centenário de Nascimento de Nico Rosso





Como prometido, a imagem "rascunhada" que comentei! Coloquei a capa do livro também, para referência!

Abraços.

6 comentários:

  1. Eu não conhecia mesmo esse trabalho. Belíssimo.
    Até lembra aquelas da Cripta às quais me referi, mas que eram bem mais soltas e aterrorizantes.

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  2. Jô, quanta coisa "perdida" não devemos ter para descobrir!

    Chama o Indiana Jones gente.....

    Você que foi um dos que presenciou a frenética produção dele bem pode estimar a quantidade de quadrinhos, ilustrações etc que ele produziu.

    Creio que essa nova geração, movida a bytes, gostaria de saber um pouco mais do dia a dia do estúdio. Se puder nos conte um pouco, ok?



    cvrosso

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  3. Claudio, vou começar com uma entrevista que dei a você em 2003.

    PRIMEIRA PARTE:

    1) Favor se identificar com seus dados pessoais e profissionais.
    – Josmar (Jo) Fevereiro, 59 anos, São Paulo, SP. Artista Gráfico, desenvolvo projetos gráficos e faço ilustração para as áreas de publicidade, embalagens, editorial e quadrinhos, desde 1965; alternada ou simultaneamente.

    2) Qual a sua relação com as Histórias em Quadrinhos?
    – Iniciei minha carreira profissional como assistente do Professor Nico Rosso, com quem trabalhei até 68. Em 77 voltei aos quadrinhos, participando de vários projetos alternativos, dos grupos Octopus e Fênix, e colaborando com as editoras Vecchi, Ebal, Grafipar e Ondas, até 85.

    3) Como conheceu (a pessoa ou a obra) Nico Rosso?
    – Tomei contato com seu trabalho ainda menino, através de algumas capas de livros e quadrinhos infantis (anjinho). Em 64, foi meu professor na Escola Panamericana de Arte onde tive a sorte e a honra de ser convidado para inaugurar sua "Equipe".

    4) Na sua opinião qual foi a contribuição dele para a HQ?
    – O Professor Nico deixou um legado fundamental para a história do quadrinho brasileiro, na qualidade de sua obra, na variedade de temas com que trabalhou, na magnificência de suas capas, no afinco e seriedade com que orientou e formou seus alunos e colaboradores.

    5) Qual desenho, estilo, capa, personagem ou outros, que ele desenvolvia, que mais lhe agradava? Comente.
    Apesar de ser admirador incondicional de seu traço, minha predileção é pelo terror,
    onde ele, na minha opinião, é o mestre dos mestres. No terror ele assume seu barroquismo com toda a paixão, criando climas inigualáveis nos desenhos e nas capas.

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  4. SEGUNDA PARTE:

    6) Na sua opinião, Nico colaborou para a criação, formação ou inovação da “linguagem” das histórias em quadrinhos? Se possível, desenvolva um pouco mais sobre o tema.
    – Na medida em que, como autor e formador, é considerado referência por várias gerações de quadrinhistas, sua participação na evolução da "linguagem" é óbvia.
    Quanto a discorrer sobre os detalhes teoricamente relevantes dessa participação, não me sinto abalizado o suficiente para tal.
    Para mim a série "Seleções Terrir", onde não colaborei mas meu pai foi o letrista exclusivo, representou uma grande novidade em termos de humor em quadrinhos tanto no texto, quanto nos desenhos.

    7) Alguma informação, detalhe ou curiosidade sobre Nico Rosso que gostaria de saber ou comentar/compartilhar?
    – Gostaria de esclarecer por que houve um período (+ ou - 65 a 67) no qual várias histórias apresentavam um traço meio grosseiro, inseguro, praticamente sem nada da elegância característica do Professor Nico. Os originais, nessa época, eram desenhados e arte-finalizados em um acetato especial, dispensando assim o fotolito.
    Esse procedimento baixava o custo de produção e aumentava um pouco nossos proventos.
    O Professor fazia os desenhos com grafite e as partes mais delicadas da arte-final com pincel e ABDEC (um tipo de têmpera usado para retocar fotolitos); depois passava para os colaboradores, que finalizavam o resto na caixa de luz e retocavam as eventuais transparências que haviam ficado na primeira fase da arte-final. Como o grafite é meio oleoso e as mãos também, era preciso misturar sabão ao ABDEC o que fazia com que a tinta perdesse consistência, forçando várias pinceladas no mesmo lugar. Unindo essas dificuldades a inesperiência e (maior ou menor) insegurança dos colaboradores, estão explicados os estragos feitos sobre os desenhos maravilhosos de nosso generoso Mestre.

    8) Alguma pergunta que gostaria que fosse feita neste questionário (e infelizmente não fiz) ?

    – Qual a minha opinião sobre Nico Rosso como pessoa?

    – O Professor Nico era um batalhador incansável. Adorava o que fazia e o demonstrava sorrindo o tempo todo enquanto trabalhava rápida e nervosamente com sua mão esquerda (e o cigarro na direita). Era um homem da família, com princípios cristãos, gostava de ler e tinha uma ótima cultura visual. Incentivava os colaboradores a evoluir pessoal e profissionalmente. Devo muito de minha fomação moral e profissional a esse Grande Mestre.

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  5. O DIA DA CAPA I:
    Para nós, colaboradores que levavam as páginas de quadrinhos para finalizar em casa, o dia ideal para a entrega das mesmas era quando o professor Nico ia fazer uma capa. Nesses dias saíamos da rotina do traço preto e branco, para saborear as delícias da pintura a cores.
    Ao chegarmos no estúdio, geralmente ele já tinha preparado o papel com uma camada de tinta látex branca, seu suporte predileto para esse trabalho. Às vezes, quando achava uma foto com iluminação dramática ou diferente, usava como referência para as capas de terror. Nesses casos, o esboço também era feito antes. Uma frustração, pois não queríamos perder nenhum detalhe do processo. Ficávamos hipnotizados a ver surgir, em traços rápidos, as alegorias das histórias nas quais havíamos acabado de trabalhar e que, dentro de duas ou três horas, se transformariam em suas fantásticas capas (quase nunca editadas condignamente). Esboços magníficos que eram copiados em seguida para o papel definitivo com grande economia de traços. Sua paleta consistia em pouco mais de dez tons de têmpera acrílica, dispostos em semi-círculo sobre uma placa de vidro grosso.

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  6. ODIA DA CAPA II:
    O Nico usava pincéis chatos para os fundos, e redondos para os acabamentos. Pintava com rapidez e, no decorrer do processo, enfatizava para nós os detalhes mais relevantes de cada etapa... primeiro uma camada bem diluída para criar o ambiente, quase sempre contrapondo uma área de tons quentes a outra de tons frios. A seguir vinha o detalhamento do terceiro e segundo planos com aumento sucessivo de consistência na cor, até chegar às figuras de primeiro plano com a tinta mais encorpada e as tonalidades mais fortes. Para finalizar, uns toques de brilho e sombra com gouache para “subir” os contrastes e, claro, sua inconfundível assinatura alada escrita de trás para frente, com a mão esquerda.
    Foi com o maior deleite que presenciamos a criação de capas antológicas para as revistas do Drácula, da Lucivalda, do Vingador Mascarado, do Dakota Jim, Seleções de Terror, Combate... que alegria quando ganhei o esboço da capa nº1 d’O Mestiço (Dakota Jim)! Pena que na época, as editoras tinham o péssimo hábito de ficar com os originais que, num país sem memória como o nosso, devem estar perdidos para sempre.

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